Aqui está uma história em que pretendi voltar ao tema das fadas (esta foi escrita há algum tempo atrás, ainda não existiam as Winx) pois sentia que se tinha perdido um pouco desta fantasia imaginária que sempre fez as delícias do público mais pequeno. Fui influenciada por J. M. Barrie no seu magnífico Peter Pan. Neste meu conto a
bordo levemente o tema da descriminação e, também da auto-estima.
Era uma vez uma fada muito pequenina, do tamanho
de um feijão, com uns cabelinhos cor de laranja, muito compridos e
uns lindos olhos verdes, muito brilhantes, que pareciam pedras
preciosas. Por isso lhe chamaram Esmeralda. Ah! É verdade...como
todas as fadas, tinha também umas asas transparentes, que mexiam
muito quando estava contente e ficavam muito quietinhas quando estava
triste.
Era o que acontecia já há algum tempo. A Fada
Esmeralda sentava-se nas pétalas das flores e ali ficava, muito
pensativa, à espera que alguém a visse. Mas isso nunca mais
acontecia...As pessoas olhavam para as flores, cheiravam-nas e
apanhavam-nas e, quando alguém reparava nela era para a afastar:
- Olha está aqui um mosquito! Sai daqui abelha! ...
E lá lhe davam uma sacudidela que a atirava ao
chão. Um dia, até se picou numas urtigas que estavam por perto...
Mesmo as crianças, que são mais atentas que os
adultos, e ouvem muito melhor a voz das fadas – sim, porque muito
poucos adultos as conseguem ouvir – já nem essas a conseguiam ver
e, quando viam e ela lhes tentava dizer que era uma fada...riam-se e
não acreditavam. E isso, é a pior coisa que podem dizer a uma
fada...Ela fica cada vez mais triste, as asas cada vez mais paradas
até que, um dia, deixam de mexer e, assim, a fada não consegue
viver.
Mas, um dia, enquanto descansava à sombra de uma
margarida, um menino, que também tinha os cabelos cor e laranja,
apanhou a flor.
- Ai!!! Tiraste a minha sombra...
- Desculpa, foi sem querer...não sabia que estavas aí.
- ...Tu...tu...tu...es...estás a falar comigo? – perguntou a Fada Esmeralda.
- Sim. Não está aqui mais ninguém, pois não?
- Mas...sabes quem sou eu? Se calhar pensas que sou um mosquito, ou uma abelha...
- Oh! Que disparate... Se assim fosse não estava a falar contigo...És uma fada! E muito bonita...não te pareces nada com um mosquito...
- Sou uma fada... Há tanto tempo que não ouvia dizer isso. Já ninguém acredita em fadas. Vês, estou tão feliz que até já consigo voar um bocadinho. E se tu bateres palmas... eu fico logo boa.
O menino bateu palmas, muitas palmas e, em breve,
a Fada já voava muito alto e bem depressa. Atrás de si deixava um
rasto de minúsculas estrelas doiradas, que caíam como chuva sobre
as flores e, também sobre o menino, que se ria, pois faziam-lhe
cócegas.
- Podemos ser amigos? – perguntou Esmeralda.
- Hum!...Queres mesmo ser minha amiga?
- Claro...és um rapazinho tão simpático...
- Sabes...é que eu não tenho amigos...ninguém quer brincar comigo porque eu tenho os cabelos cor-de-laranja...Os meninos da minha escola dizem que eu pareço uma tangerina e eu fico sempre sentado lá num canto...sozinho...
- Ah!...Vou ajudar-te, vais ver...Amanhã vou contigo à escola. Vais-me apresentar aos teus colegas...
Assim foi. Quando chegou a hora do recreio, as
outras crianças vieram ter com o menino e, como sempre, disseram:
- Ó Tangerina. Queres brincar ao descasca e foge?
Ao contrário dos outros dias, em que o menino se
mostrava muito zangado e se escondia num canto, disse:
- Não. Já não preciso que brinquem comigo. Tenho uma amiga.
- Tens??? Onde é que ela está? Na árvore, não???
Conforme disse isso, sentiu uma picada na orelha,
mas nem ligou.
-
Não. Está aí. Mesmo em cima do teu ombro.
Todos começaram a rir, e a dizer que ele devia
estar maluco.
- Aqui, ao pé de mim, só vejo uma abelha. Não me digas que és amigo de uma abelha?
- Não vês que não é uma abelha?
- Então é o quê? Um mosquito, não?
- É uma fada?!!!
- Ah! Ah! Ah! Uma fada. Não existem fadas – disseram os colegas todos.
Conforme isso aconteceu, começaram a surgir
milhões e milhões de estrelinhas de todas as cores, rodopiando em
volta dos meninos que, de repente, viram os pés a levantarem-se do
chão, subirem um pouco no ar e...de repente...caíram uns em cima
dos outros...
- Então? Ainda não acreditam? – perguntou o menino, todo satisfeito.
Os colegas estavam tão admirados que nem
conseguiam falar.
E a Fada? Onde estava? Pois é. A Fada estava
muito fraca, pois tinha perdido muitas estrelinhas e isso não era
nada bom para as fadas. Quando isso acontece acabam por se
transformar também em estrelas e subir ao céu, onde brilham todas
as noites. A única solução era terem muitos meninos a bater palmas
e a dizer: “Acredito em fadas! Acredito em fadas!...”
E foi isso que o menino fez: começou a bater
palmas, cada vez com mais força. E depois, um colega fez o mesmo. E
outro, e mais outro e, por fim, todos os colegas batiam palmas e
diziam:
“Acredito em fadas! Acredito em fadas!”
E a Fada Esmeralda nunca mais ficou triste. Nem o
menino do cabelo cor de laranja: o Ricardo...